"É que esse amor a bagunçou inteira. Jurou que viria vê-la
por três vezes. E a mesa posta, a casa limpa, o vestido bordado. Agora o cheiro
das flores que murcharam na chita do vestido lavado. Agora esse café frio, uma
das taças intacta, o vinho pela metade. E ela contando sua coleção de esperas,
crepúsculos e cartas rabiscadas em guardanapos.
Tentando se reorganizar novamente,rezava para que tudo
voltasse ao seu devido lugar: onde não havia nenhum (falso) entusiasmo e nenhum
desses fogos (de artifício).
É que esse amor a bagunçou inteira. E a louça suja de um
prato só. E a angústia dura de um parto só. E toda a ternura, como havia lido
em Drummond, toda essa ternura inútil, desaproveitada.
Ela só queria que essa dor tão familiar, lhe fosse estranha.
E que alguma coisa lhe fizesse companhia, nem que fosse uma voz do outro lado
que considerasse a importância que havia para ela de, pelo menos, ouvir um
“adeus”.
E pedia esperançosa:
“Deus perdoa por eu ter amado, desajeitadamente, quem não me
amou de jeito algum.”
Marla de Queiroz
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